segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sobrevivi

Sexta à noite fui à despedida de um amigo do meu namorado. Fui para a casa do amigo depois da aula. Quando cheguei lá a despedida já tinha acabado, nunca tinha visto antes uma despedida/festa de uma pessoa de 19 anos acabar antes da meia noite em uma sexta-feira, mas tudo bem. Ficamos lá na casa dele, jogamos WAR edição ilimitada. É muito importante ressaltar, o edição ilimitada porque na edição ilimitada tem bonequinhos para representar o exercito, muito bom. Na primeira partida eu era a ultima a jogar e quase fui dizimada. Quando estava quase me recuperando o meu namorado começou a me atacar e eu perdi toda a força que estava construindo. Aí um amigo dele propôs que desistíssemos dos nossos objetivos e destruíssemos apenas ele. Claro que aceitei. Ninguém ganhou. Começamos outra partida. Essa durou até as 6h da manhã. Eu não ganhei, mas quase. No fim da partida meu pai me ligou preocupado porque eu não tinha avisado que não ia voltar para casa. Fazia tempo que ele não fazia isso, dar satisfação para os pais não é legal.


As 6h da manhã terminamos o jogo, meu namorado falou para eu dormir na casa dele para não dirigir com sono. Eu falei que não, sabia que meu pai ficaria mais bravo ainda. Eu tinha planos de dormir na Vl Mariana, tinha que estar lá meio dia. Mas como meu pai ligou, eu decidi voltar para casa. Detalhe importante, eu moro em Barueri, a casa desse amigo é na Vila Prudente, longe para caralho.

Na Salim Fara Maluf senti um leve cansaço. Troquei o rádio. Na marginal senti minhas pálpebras caírem, aumentei o som, liguei o ar condicionado. Meus olhos continuavam caindo, pensei em parar em qualquer lugar e dormir 30 minutos, mas já estava tão perto.

Abri o vidro, fechei o vidro. Me mexi, abria os olhos, pulava. Tudo para ficar acordada. A marginal Tietê é muito longa. Céus, não termina nunca. Finalmente Castelo. Um acidente com um carro e um caminho, ok, desviar e entrar na marginal pedagiada (agora tudo é pedagiada). Ótimo, já estou em casa. É só seguir reto.

A traseira de um caminhão, pisa no freio, pára-brisa estilhaçado, cabeça loira indo para frente, tudo embaçado, tudo branco, não consigo respirar. Freia! Freia!!! Joga o carro para direita. Será que esse é o freio. Puxa freio de mão. Como posso dirigir sem ver? A branquidão ta passando. As almofadas estão murchando. Que cheiro horrível. To parada. Não enxergo nada. Isso foi o airbag? Ligar o pisca - alerta. Aí tem vidro aqui. Vou sair do carro. Abrir a porta. Buzina, um caminhão rápido. Certo. To na Castello. Abrir devagarzinho. Sair do carro. Por que não enxergo nada? Meus óculos! Cadê meus óculos? Ta no chão. Ok. To vendo agora. O carro ta todo branco por dentro. O airbag abriu. Ta cheio de vidro estilhaçado. É do pára-brisa. Cadê o caminhão? No acostamento, to na ultima faixa. Cheiro de óleo, tira a chave. Vou falar com o motorista. Será que eu to bem? Será que não quebrei nada? Será que não é adrenalina? Se tocar, passar a mão no rosto. Será que to sangrando? Olhar a mão. Minha mão ta sangrando! Droga! Quebrei o rosto inteiro. E agora? E agora? Minha roupa está com gotas de sangue. Eu quebrei o nariz, certeza eu quebrei o nariz. Espera. Ta saindo mais sangue da mão. Cortei o dedo. Não foi nada. Nem ta doendo. Será que é só isso? Moço meu nariz ta sangrando? Você está bem, moço? Eu to bem, to bem. É, ta doendo o peito, mas deve ser do cinto. Eu to bem. Não sei. Não sei. Sua carga é perigosa? Tinha mais alguém com você? Você tem celular? Não sei onde está o meu. Você sabe o numero da Via Oeste?

Vou tentar entrar no carro. Porta do passageiro, trancada. Vou ter que ir do lado do motorista. Aberto. Celular ta aqui no chão. O rádio não parou. Pai... “o que aconteceu? Fala logo” eu bati o carro. Na Castello. “Você está bem?” Sim. “Onde na Castello?” No começo, um pouco depois que abre para a pedagiada. “to indo para aí”.

Liguei para a polícia, eles não vão se não há vitimas. O caminhoneiro pegou uma bicicleta para ir até o acidente anterior chamar a polícia. Parou um moço em um gol branco. Ele abriu meu porta-luvas. Não tinha o cartão do seguro. Ele me emprestou água para lavar a mão. O corte é menor que de um papel. Ótimo, não vou levar ponto.

Chegou a polícia, chegou o guincho. Chegou meu pai. Fui para o hospital, dói o peito, as costas e o pescoço. Não precisaria estar aqui, eu estou bem. Vai fazer tomografia e radiografia do tórax. Durante o exame, tremi, tive espasmos na perna e dormi. Saiu uma bolotinha no meu braço. Pode ser reação alérgica do contraste. Ficar em observação. Dormi na maca. O médico chegou, está tudo bem. Você não teve nada, nenhuma fratura, nenhum estiramento de músculo, nenhum trauma. Pode ir para casa.

E eu fiquei pensando. Se eu não estivesse com o carro da minha irmã que é mais alto que meu Goldofredo e tem airbag. Se eu não tivesse acordado milésimos de segundos antes da colisão e pisado no freio que aciona o airbag. Se a carreta estivesse parada ou mais devagar. Se a carreta tivesse freado quando sentiu o impacto. Se não tivesse pára-choque na carreta. Se o pára-choque da carreta fosse de madeira ou de alumínio. Se eu não tivesse um anjo da guarda que nunca dorme. Se não tivesse dirigido com sono.