terça-feira, 22 de junho de 2010

Revirando o Lixo

Resolvi revirar o lixo, reler meus texto antigos. Descobri que eu já fui emo depressiva, pessimista e suicida em potencial. Mas vou colocar aqui alguns textos que eu (ainda) gosto, mas fiquem tranquilos, isso não reflete meu atual estado de humor - são apenas textos.

Texto 1:

Na hora do almoço

Lá estava eu, caminhando em direção ao maior símbolo do consumismo - o Shopping Center - para poder almoçar. Era obrigado a atravessar uma avenida movimentada, com um semáforo.

A luz vermelha estava prestes a mudar para a verde, então tive que correr um pouquinho. Quando cheguei do outro lado vi um grupo de meninos mal vestidos e sujos. Um deles estava guardando alguma coisa numa bolsinha, deduzi que fosse dinheiro.

Este menino me encarou. Era mulato, mas tinha os olhos mais claros que uma lagoa e os cabelos queimados de sol. Na sua bochecha havia uma cicatriz de um corte grave. Vestia sandálias Havaianas, um shorts e um moletom.

Eu o olhei nos olhos e ele nos meus. Eu consegui ver toda a sua vida só naquele olhar. Ele tinha 13 anos, já havia sido engraxate, vendedor de balas, limpador de vidros e agora era malabarista. Se tinha pai ou mãe eu não sei, mas sei que não freqüentava a escola. Não sei como foi seu passado exatamente, mas sei que o seu futuro já estava traçado antes de nascer. Cometeria seu primeiro crime e iria para essas casas de recuperação de menores, que eu sempre chamei de FEBEM, lá aprenderia a arte de verdade, viria ladrão, assassino, traficante, um criminoso profissional. Morreria jovem, se não fosse pelas mãos da polícia seria pelas de algum inimigo.

Então eu, incomodado pelo seu olhar profundo, desviei minha atenção e fiz o que todos fazem: me virei e saí andando, fingindo que ele não estava ali. No almoço, no shopping, comi feliz um delicioso BigMac.


Texto 2 (primeiro relato do meu diário de bordo):

17 de Janeiro de 2009

Vou carregar de tudo vida afora

Marcas de amor, luto e espora

Deixo alegria e dor ao ir embora

Amo a vida a cada segundo

Pois para viver eu transformei meu mundo

Abro feliz o peito, é meu direito!

Ângela Rô Rô

Brasil – 16:10

Decolamos! Dei a sorte de pegar os assentos da lado do meu vazios, vou poder dormir deitada. Mas dei o azar de sentar do lado da asa e da turbina. Talvez eu nem consiga dormir.

Comprei um relógio, um perfume e uma capa para a câmera no Duty Free.

Em algum lugar sobre o Oceano Atlântico – 20:00 (horário de Brasília)

Certo, descobri que a agenda não é o suficientemente grande para caber as minhas aventuras na Itália. Então estou mudando para o meio digital, vamos ver no que dá. Tento deixar o mais próximo da agendo, isto é, trago para cá a graça dos poemas daquele caderno com os dias marcados.

Antes da refeição, o homem que estava na minha frente teve um problema com a televisão e se mudou para o meu lado. É, acabou a mamata de dormir deitada. No serviço de bordo eu agradeci pela a Mylene não estar aqui, ela teria que fazer uma escolha difícil entre peixe e porco. Eu escolhi peixe, que veio com macarrão coberto de queijo, e desconfio que o molho do peixe também era a base de queijo. Enfim, comi mal. Vamos esperar pelo café da manhã.

Mesmo com tudo isso, o mais difícil foi deixar o Brasil e minha família. Eu tive que me segurar para não chorar, e continuo me segurando. Eu sorri, mas foi um sorriso de nervoso, eu senti medo e continuo sentindo. Já tive dor de barriga, e enjôo nesse vôo. Mas nada saiu do meu corpo, nem por cima nem por baixo. Talvez não seja mal estar pela comida ou algo do gênero. Acho que é isso que chamam de frio no estomago, ou borboletas dançando e me engasgando por dentro.


Texto 3 (último relato publicável do meu diário de bordo):

24 de fevereiro de 2009

Custei a compreender que fantasia

É um troço que o cara tira no carnaval

E usa nos outros dias por toda a vida

Adir Blanc e João Bosco

Ontem a noite nós discutimos sobre saudade. A saudade é o revês do parto. A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu. Este é um sentimento muito doloroso. Mas eu ainda acho que é pior para quem fica do que para quem parte. Percebi que não posso olhar fotografias que bate a vontade de voltar. Não exatamente voltar porque eu gosto de estar aqui, mas eu queria que todos estivessem aqui comigo.

Hoje voltou a fazer frio, não fui para a faculdade e logo mais vou comprar meu ticket para Verona. Não liguei para casa e gostaria de ver todo mundo, de falar com todo mundo. Aqui é muito legal, mas aquela conversa de ontem mais o e-mail da Tha e o da San me deu uma vontade louca de voltar. Me deu vontade de ver nós quatro juntas de novo, me deu vontade de nós seis comendo e falando besteira na sala de jantar da casa da mãe. Ontem e hoje deu saudade. Maldita palavra essa que descreve essa agonia, essa falta, essa saudade.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Irritação

Tem gente que se irrita por muito pouco. Tem gente que se irrita por muita coisa. Tem gente que não se irrita nunca. Tem gente que se irrita com um toque no braço, tem gente que se irrita com goteiras, tem gente que se irrita com construção na casa ao lado. Eu me irrito com britadeiras. Nunca tive esse problema, até que eu tive que conviver com britadeiras todos os dias. Nem é pelo barulho, é pela dor de cabeça. Meus olhos ficam subindo e descendo tão freneticamente quanto a britadeira que eu fico tonta. Se não se está com frio e nem se tem Parkinson porque ficar tremendo?

Minha cachorra costumava tremer na minha perna quando ela estava no cio. Ela está castrada agora.

O mundo animal

No mundo animal tem muitos jeitos de se cortejar. Alguns animais cantam, outros dançam, tem uns que deixam seu papo vermelho e grande, tem animal que chifrudo que brigam com seus cornos para ganhar o coração da donzela.

Na maioria das vezes quem escolhe o parceiro ideal é a fêmea, as vezes eles se escolhem mutuamente. Tem animal que permanece junto para sempre, tem animal que a cada temporada escolhe um parceiro para dar uma trepada. Mas todos tem um ritual. Alguns se machucam, outros se matam, tem animal que devora o outro depois do ato consumado, tem animal que mata mas não come, que mata e come, que come mata come, que come mata. Esses animais morrem de amor pelo outro literalmente.

Mas seja comendo, seja matando, seja cantando, seja dançando, seja lutando, seja chifrando todos os animais buscam apenas uma coisa: ter bebes.

Eu não quero ter bebes, não quero matar ninguém, não quero chifrudos lutando por mim, e quem já me viu dançando ou cantando entende porque eu não tenho namorado.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Tudo começou com:

- Filha, o que você quer ser quando crescer?
- Quero ser grande - respondi inocentemente.

E assim começou. Você ter que ir bem na escola. Você tem que passar no vestibular. Você ter que ir bem na faculdade. Você tem que arrumar um emprego. Seu emprego deve ser o mais legal. Você tem que ganhar bem. Você tem que estar apaixonado. Você tem que casar. Ter filhos. Seus filhos tem que ir bem na escola. Tem que ser bem educados. Você tem que comer salada. 3 refeições por dia. Beber chá verde. Fazer atividade física. Usar filtro solar. Não fumar. Beber só socialmente. Fazer sexo. Ter orgasmo. Usar camisinha. Comer bem. Acordar cedo. Dormir 8 horas por dia.
E ainda você tem que ser feliz. E sem tomar risotril.
Tá cada vez mais difícil ser grande nessa vida.